21.6.19

O dia em que o ódio tentou matar o amor (28/10/2018)

Tentou, mas não conseguiu. Quero lembrar desse dia não com a agonia: com tristeza, sim, mas lembrando que o luto é temporário. Necessário (como todos são), mas não perene. O luto vai virar luta, como sempre fizemos.

Tenho pensado muito nos últimos dias. Lido tantas coisas, mas conversado muito mais. Tenho ouvido desabafos, escutado sensatas, doloridas e essenciais análises feitas por grandes companheir@s. Quanto a mim, não me sinto capaz nem inclinada, no momento, a teorizar muita coisa, até por estar contemplada por tant@s que o tem feito melhor do que eu poderia.

Nas redes sociais, um pandemônio. Do lado de lá, o ódio explícito e alarmantíssimo. Do lado de cá, o medo, a angústia, sim, pela compreensão do que foi perdido, do que ainda pode se perder. De minha parte, o que tenho pensado mais é outra coisa: não devemos aumentar o poder do inimigo. É uma das formas de enfrentar o fascismo, aliás. Precisamos ter clareza do caminho a trilhar, das batalhas a enfrentar, porém sem repercutir o terror e o medo que justamente eles querem insuflar.

E com isso não estou criticando os amigos que tem feito tantos alertas, longe de mim. Concordo com todos, e estamos de mãos dadas! Ninguém solta a mão de ninguém, por favor não soltem a minha. Apenas tenho pensado, todo dia um pouco mais, que as saídas são duas: além da óbvia resistência, é refletir sobre a nossa própria resiliência. Nós somos mais fortes do que tudo isso. Necessariamente mais fortes, mais potentes, mais poderosos. Sim, coletivamente somos imensos, mas também enquanto indivíduos ignoramos tantas vezes nossas próprias capacidades.

Esse é um chamado pra resistência, mas também ao autoconhecimento e ao autocuidado. Esclareço: esse é o pior momento da nossa história política contemporânea, é, mas todos nós tivemos, em uma ou várias ocasiões da vida, situações tão avassaladoras quanto, tão terríveis quanto, e sobrevivemos. Uma depressão, duas, três, um câncer, a perda de um familiar, de vários, o isolamento social, violências de várias ordens, alguns que passaram por coisas ainda piores. Não estou diminuindo nosso drama atual, mas apenas dizendo que já saímos de muita coisa e às vezes nem lembramos mais.

E digo isso fundamentalmente porque acredito em mim, acredito em nós, e nós vamos sair disso: eu sei. Além disso, tenho perdido amigos e vim dizer que não estou disposta a nem mais uma perda. Nenhum amigo, nenhum familiar, e tampouco minha própria perda. Vamos lembrar que já saímos de tragédias e que cada um de nós teve seu próprio jeito, seu caminho e suas lutas.

Esses tempos me fizeram lembrar que, em alguns dos meus piores momentos, eu soube exatamente em quem e em que me apoiar. Tive amigos que seguraram minha mão e me levantaram bem mais vezes do que eu conseguia sozinha, à época. A arte sempre me ajudou, principalmente a música e a literatura: o violão, a gaita, o blues, a poesia, as rodas de leitura. São minhas formas de integração, foi assim que eu me salvei. E, para mim, sempre foram fundamentais meus grupos de amigos, minhas atividades coletivas: políticas, culturais, acadêmicas. Esse foi e é meu jeito, e sei que você também tem o seu.

Meu convite é esse: lembre, lembre das coisas, dos seus jeitos de se integrar e faça de novo. Se for a família, cole junto, os amigos, mais ainda. De repente é a religião, ou o esporte ou o mar. Se for a arte, como eu, vamos pensar junto alguma coisa! Ou se não for o que você fazia, bora descobrir coisas novas?

Isso tudo é o que nos fortalece, o que nos faz inteiros, firmes e fortes para poder encarar o que tiver que vir. A resistência, no meu entender, só pode ser feita dentro desse forte esquema de cuidado e de integração, com amor, com resiliência. Cada dia mais, todo minuto, pulsa a frase de Che Guevara, pois sem a ternura como poderemos endurecer, lutar e vencer esse ódio besta? E venceremos!

31.5.19

Tododia.

Ando pensando sobre a copresença, algo tão importante em todas as relações. Tenho amigos namorando a distância (nunca tive a experiência, e para ser bem sincera não espero ter). Alguns namoros com boas histórias pra contar, outros não tanto. E fiquei observando pra entender como fazem pra dar certo.

Reparei na copresença. Quem consegue "fazer dar certo" investe pesado na copresença. E pra isso a pós modernidade nos ajuda: internet, WhatsApp, facetime, Skype e mil outros aplicativos. Mas só funciona se você realmente estiver lá. Se são feitas coisas em conjunto (livros, séries, viagens), acho que se aprende a estar lá para o outro.

O curioso é que o excesso de internet e aplicativos, justamente, pode nos afastar do outro que está perto (o que está ao lado), o amigo, o namorado, a namorada, a esposa.

O celular que aproxima e distancia. O livro que aproxima e distancia. O trabalho que aproxima e distancia. No fim, somos um eterno jogo de proximidades e distâncias. E precisamos também de uma certa distância que garante a autonomia, a liberdade, a existência desse self (que,sem ele, facilmente nos sentimos oprimidos e sufocados sem nem saber pelo quê).

É preciso ter cuidado com o tanto da distância, isso tudo faz pensar. A insustentável leveza do ser, não é? E, nesse caso, a imponderável distância das relações.

Antes de eu começar a teorizar, evocar meu amigo Goffman e parecer uma conversa de bar, me despeço de mim mesma e desse eu sedento de escrever.

22.3.19

Andei milhões de anos com esse desespero no peito, as frases tatuadas e impossíveis de dizer – não me deixaram. Quando eu disse, foi tão baixo, mas tão baixo, que nem eu pude escutar.

Acostumei com meus grafites internos, no colorido mais complicado que consegui arranjar. Fui e continuo sendo um complexo de arranjos desarrumados, uma agonia por trilhar caminhos de poder andar – mas quem é que pode? Andar no mar, meu amigo, é para poucos.

A doce ilusão de poder ir para todo lugar. Acalentei-me com o desejo da viagem, o riso louco da alegria, os passos-asas por aí. E fui, por muito tempo, um andarilho de lugar nenhum. Pisei por tantas terras que já nem sei nomear. Quero voltar, quero ficar. Quero ir, quero acolá – mas já nem quero.

Uma comédia de ontens e amanhãs, um monólogo compartilhado, um poema entrincheirado: eu sou e somos por aí.

Eu somos tantos, nós que sou eu, essa confusão nunca respondida, correspondida, que ainda desanda. Um desarranjo, um desespero, uma loucura.

Então é hora: voltar andar? Voltar voar?

Mais uma vez, andar no mar, cair nas ondas, nadar no ar.
No meio da tarde, pleno escritório, ela se pegou pensando quando foi que sua voz deixou de ser. Falava ainda, mas há quanto tempo não dizia, não criava, não gritava.

Contenções cotidianas de trabalho, de família, em ciclos sucessivos de talvez. Quem sabe um dia melhora, semana que vem começaria a mudar, no outro ano, primavera. Nunca mais virara flores.

Acostumara-se aos espinhos, ela que tanto era de girassóis. Que, aliás, não tem espinhos. Ou tem?

No fundo ainda era ela: os cadernos, as flores, o violão. Sorrindo, insistindo. E sobretudo perseguindo sem perceber os limites da chuva, das nuvens, de si.

No topo, ainda os mesmos fantasmas. Sonhos, delírios, verão e inverno.

No fundo, nunca mudara.

No raso, ninguém a conhece.

Quem é que afinal se conhece?

A tarde foi virando noite, ela foi virando ontem, e o antes virando amanhã.

Todos indo embora e ela estática, perplexa diante dela mesma.

Se gritasse bem alto e bem forte, será que ela de antes ouviria e viria lhe salvar?

10.6.12

pode até parecer, mas não temos muito tempo, sabe? e hoje não é dia de ficar triste, e sim de celebrar, celebrar cada coisa bem pequenininha, miúda ou quase inexistente... porque existem, sim, existem! a gente é que não anda bom de ver, parece.

hoje não vou ficar refletindo ou me queixando ou sem saber. vou só celebrar, e quem quiser vir junto entre no barco. :) o barco é grande e cabe, quer todos gostem - ou não.

31.5.12

bloco do prazer

e se eu te disser que sonhei a noite inteira, que quase não acordei, que agora já nem sei, que apenas me pergunto se devo ir... mas ir aonde, não é? parece, meu bem, que quero o oito e o oitenta. oitenta carnavais, veja você, será que vou viver? oitenta sonhos desses não aguento.

mas quando eu te disser que o mundo é enorme, enorme, enorme, enorme e sempre nos cabe? vou fazer com que caiba sempre, mesmo se doer, mesmo se acabar. não ando bem das idéias, meu amor, preciso parar de sonhar.

um dia eu vou te dizer, e não sei se você ouve. um dia vou te beijar, e não sei o que vai dar - me preocupo, mas parece que espero. eu andei muito tempo por aí, perdido, alucinado, com músicas nos pés, e tudo o que eu queria era dizer.

as frases me foram presas no peito, querida. só vou te dizer que quero o oito e o oitenta, e não sei onde vou parar.

19.5.12

não tenho


Nada em meu nome,
Nada a esconder,
um tempo inteiro a cumprir,
um mundo enorme a viver,
um monte de sonhos,
quartos e quadros ao montes,
montanhas verdes-vivas

não tenho, menina,
mas é de tanto ter.

Não tenho, aliás, sequer Antônio.
Tenho Karina, tenho tempo e não tenho

não tenho, menina,

Nada em meu nome, a não ser lembranças.

10.5.12

às vezes, só às vezes, pode ser mais simples do que parece. :)