29.3.07

Um solo de gaita.

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O céu de estanho lá em cima
e na estrada uns pés de caminho.
No interstício és a gaita
cantada de verbos alheios,
sorrateiro soprando versos
bela e velha mochila nas costas,
por enquanto não somos nada
além de cinzas sozinhos.
Mas é da cinza de tanto tempo
que se segue os passos ausentes
achando toda a resposta

naquele solo de gaita.

Por mais que ninguém dissesse
e caronas fossem difíceis
os carros sempre passavam
por volta daquelas montanhas.
Insistia dizer que tuas
tuas montanhas tantas
tua mochila nas costas
e teu destino nos pés.

Teu instrumento brinca
enquanto segues olhando
o vento batendo nas costas
e fingindo não ser contigo.
Espanta é que seja tanto
que seja verso e seja amigo
que seja solo e seja gaita,
e ainda não tenha um próprio caminho.

há de ser feito conforme os pés,
é assim que sempre respondes
à pergunta que tu mesmo começas

naquele solo de gaita.



Uns verbos alheios na carona que achaste
de ontem e sempre em diante
pegas a tua mochila, debaixo do céu de caminho
e da estrada de estanho.

Até quando seremos seguindo?
vai sabendo tocando a gaita,
que é bem na próxima nota
que se lhe revela o destino.
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21.3.07

Carta X.

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Acordo e não sei se foi sonho. Bom dia, A, que renasce, renasce pessoa outra ou deliro eu? Minhas mãos brincando teus cabelos; o sorriso que me deste; o “bem muito” que disseste ao entrar sala adentro pra abraçar-me. Naquele instante, A, amei-te a vida inteira.

Carta em mãos e tu nos olhos de verdade, voltei aos tempos de crer e acreditar o tempo inteiro em ter-te apenas por gostar. Deixa-me confessar? Tão lindo te ver dormir...E esperar pelo teu sorrir para ir-me lá, um sorrir que conheço há sempre e só agora posso tocar. Entendes?

Desfaço-me em bobices porque também renasço eu. Já não és A., és nome outro, aliás nome algum, não vou deixar que. Nada de conceitos. Quando me chamares, saberei. Será que a recíproca? Preciso ver-te. E te vi todos os dias de tão longe, agora preciso outro abraço apertado sem ser repetido, tenho um ciúme bobo que se mostra em tudo, reparaste?

Sigo-te com os olhos a todo recanto, quase chego a pedir tanto que me vejas, mas, quando vês, temo. E por que temo? Será em meus olhos digo tudo. Tudo?
Mudei de cidade e não mudei de mim. – Foi? Vivo de paixões e que absurda essa. Sonhei ou foi verdade? Em momento algum fui pedir passado e agora me vem o novo, vem de novo e tenho medo de doer.

Mas vou viver, posso anotar.

Saudades tuas, A... Conta-me um pouco? De novo sobre teus casos, cores e livros. Mostra-me os fatos e ri de meu riso, mas seja comigo, se posso pedir.
Acredito, acredito, acredito.

Recebeu mesmo aquela carta?


Sorriso,
S.

7.3.07

entre umas doidas e outras

"ô marília
acho que as drogas que tu tem tomado
são verbais"




ps: por mais leitura 15h no dragão.