17.9.08

do sétimo sorriso.



- de Pascal Blanchet.


ao som de Can´t we understan each other? (João Erbetta)




Gregório de Matos



Definição do Amor


Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.



(eu discordo. mas é tão bonito ele dizendo. hehehe adoro esse poema.)

parabéns parabéns parabéns pra nós xp

6 ou 7.



Eles brincam na rua, assim como fosse domingo, apesar de que era mesmo. Mas, quando se tem 6 anos, que diferença faz: toujours est dimanche.
E era só mais um domingo, ou parecia, mas de fato não seria, se prestassem bem atenção.
Era aquele dia em que João faz 7 anos, e Luísa dança pela rua. Por que dança já nem sabe, nem tem por que saber, dança porque tem vontade e pronto.

É assim bem danadinha, fazendo caras e bocas, poses e Poses, ao mesmo tempo querendo ser moça e criança, naquela dança que só se entende quando se é pequeno.
"Mas e se eu quiser ser pequeno sempre?", João pergunta, e Luísa dança. Tem essa mania de ficar dançando quando a gente pergunta as coisas, e rindo.
Tempos depois da pergunta, como se nada tivesse acontecido, lança uma resposta maluca, e João nem entende mais, mas não pergunta - ela já dança de novo.

Credo, não pára de dançar.
Os vizinhos se divertem, os passantes sorriem, e eles continuam naquela brincadeira nada imaginária, aquele diálogo de gestos. Uns gestos tão aparentemente desencontrados, mas que sabem exatamente o que querem dizer.

"Ei, vamo comer o bolo? Tá na hora do bolo, não tá?"
"Que bolo, menino, você sempre troca as horas, agora é hora de brincar. O bolo é só mais tarde..."
"E quando é a hora do bolo?"
"Quando você fizer 7 anos"
"ué, e não fiz agora?"
"Bom, o bolo é seu, então vá lá"


"Ô Mãe, não tá na hora do bolo?"

11.9.08

Do segundo amor [parte 3]




Ele teve medo.
Era 1967 e teve medo: os pais da mocinha eram muito severos, e ele nunca conseguia chegar nem ao portão. A mocinha, ainda no ginásio, ele acompanhava com olhos ávidos toda manhã, antes de ir ao trabalho. Trabalhava nos Correios, sempre trabalhou.
Perversa ironia: nunca carta alguma que mandara estivera nas mãos da moça.
Tentou de um tudo, no entanto mais correto seria dizer que tentou de tudo, até um certo período em que, rendido aos insultos dos amigos, saiu de si e caiu na vida.
Dizia mesmo que caíra na vida por não ter mais esperanças, desistira.

Teve 202 mulheres, casou-se 3 vezes, 5 filhos havidos dos dois bons casamentos. 2 vezes viúvo, e por último separado: só pensava na mocinha do ginásio, que a essa altura devia ser como ele - velha e perdida, mas ainda a mocinha do ginásio.
Ele com 60 e tantos, ela devia ter uns 7 a menos (vai saber...), e no alto dos seus 60 e tantos, sentado na cadeira esdrúxula, contava as pílulas.

Cada uma era uma lembrança. E ele esperava, tão avidamente quanto observara a mocinha da janela, que a cada pílula uma lembrança se fosse, acabando de vez com aquela tortura que tinha vivido desde que sucumbira ao Medo.

9.9.08

Bahia




"Você já foi à Bahia, nega, não? Então vá, então vá"

Havia um teatro na esquina, em que só fui uma vez, mas se dizia que havia segredos guardados em que ninguém podia mexer.
Cresci com a idéia de que na Bahia era o fim do arco-íris. Lá os segredos, mistérios, problemas e chapadas.
Cresci e fui buscar.

E aí eu vi que o fim do arco-íris é onde você quiser que seja.
Bem aqui.

6.9.08

Do Único




[pascal blanchet]


É como Música.
E não há que falar em primeiro, segundo, terceiro, quarto, sala, hall de entrada: ele entra como bem entende, por onde atinar que deve, e pronto.
Você percebe quando já está no meio e não há como sair. Que bom, aliás, porque você não quer sair.
E é como Música que você entende que está rendido, entre notas, diminutas, ascensos e discensos: você é um crescendo.

Uma sonata de Vivaldi, uma aquarela de cores intensas brincando com as cenas...! É o delírio de sentir em cores, depois daquele tão demorado branco e preto.
Diariamente em outras tonalidades, o Único amor é exatamente este:

não dá pra dizer o nome, não dá pra não saber que há.
Ele existe, simplesmente, imemorial e eterno, e num abraço se entende. Sem qualquer palavra além.
Dizer? Meu amor, minha música.