31.10.06

Das mais cartas;

"A,

Você não entende e não está ouvindo nada, está só se vendo nesse espelho idiota. Falando dos dias que não são, jogando as culpas pra mim e a maquiagem na bolsa, reclamando do tempo e do espaço, riscando os olhos e a boca, quando será que vai me ver? Esperar eternamente que eu resolva sua vida e seus problemas, amor, não vai dar. Qual é mesmo o seu nome? Você nem sabe mais. Me pergunta todas as noites e esquece que o faz, troca de roupa e finge mudar, pelo amor dos deuses, SEJA. Não quer me ver, ótimo, mas seja. É degradante esse sorriso cínico e, entenda, não é só a mim que destrói.

Cansei dessas máscaras eternas, de piadas internas, de frios irresolutos, de brincadeiras estúpidas, de fingir e de novo fingir. Você ainda é A.?

Entre nadas e nadas, você constrói uma nova vida velha, repare só no seu ridículo, e, dentre todos os ridículos, o único que não entendo é, ainda assim, amar você. Será que me fiz hábito? Ou é só falta de mim? Quanto mais você abre essas portas, mas eu penso em ir mesmo, como é que você vai lidar com a solidão sozinha? Não me preocupo mais, mas, sim, repare, está se manchando ali na direita.

Ajeite os brincos e vá dançar, A., há alguém esperando. E, quer saber, posso até apostar que é você na próxima porta. Boa sorte e não me volte: mas me chame. A droga inteira da vida é justamente essa, querer que você me ame. Caminhos opostos, pois muito bem, falei sério, embora eu chore, não implore, ainda que em silêncio... Vá dançar, A. Cuidado com os saltos, eles quebram. "

28.10.06



só porque essa foto é fooooooda demais da conta e eu disse e ele, de volta, "é sua" xp

e junto um poema (e o contexto?!) ao Bob Dylan:

"Bob Dylan não sabia que,
naquele dia,
ia cantar pra mim até nascer um verso.

E cantou,
cantou tudinho,
pegou a gaita e fez-me a vida:
Nascida pra todos os dias.

E, vale dizer, by Bob Dylan."

pra descontrair, vão a mais calouradas na UFC =P e recitem poemas. (interna)

26.10.06

Agradecendo, em oração:

e já dizia Clarice:
"eu consisto eu consisto amém"




(de um dia importante, por dois motivos. vou às cartas, não me esqueço, e agradeço de novo:
embora haja quem diga sacrilégio.
viver é pouco pra você?
então reaprenda.)

teus segredos.

não sei quem tinha vindo falar sobre a força. e forte, forte, forte. quem é que era forte mesmo? era o vento, babe. o vento que varreu até as janelas, os papéis, as músicas.
deu cinco da manhã e o sol, nada. mas eu prefiro a luz da noite, tem brilho (de outrem, mas brilho).
todos os segredos vão guardados numa caixa, e faço que nem fernanda,
"tu sabe a senha?"
"hum.. não."
"tu sabe a senha?"
"era pra eu saber?"
"tu sabe a senha?"
(e nada deu entrar na casa. pra dp ela me dizer qual a senha. e nao, nao vou contar pra vcs xp hehehe)

todos os segredos não são escondidos, são cobertos de encantos.
e ache os encantos nas esquinas.

haicai (exercícios)

ó as brincadeiras :P

"cantiga em verso e tempo
minha corda e viola
e então rememora - sozinha"

"prédio muito e fala pouca
um desastre de alma muda
se nada muda: eu me fico"
"outro buquê de rosas
vermelhas?
teimosas."
"e em meio à cerca-viva
(observo)
tanta gente morta"
"noites ao cair de homens
esquecidos (os) nomes,
ficam rostos"

25.10.06

Quem não (ou Da desordem)

Procurava a música mais certa ao trabalho. Sim, porque o trabalho era árduo. Nada de ordenar a casa, limpar o pó, jogar os papéis, não. Hoje era tirar os sapatos, tocar pra frente a poeira, abrir as gavetas, os copos no chão. Um homem repleto ele era. Tão completo, que não precisava completar-se, pôr-se em ordem, provaria.
Ao desarrumar os lençóis, desalinhar o sofá, tirar o violão do armário, ele não pensava. Mas o narrador assiste e, sem querer narrar, auxilia nos trabalhos: bagunça-lhe as vírgulas e ele nem sabe - já deixou de pontuar-se.
"Minha grande grande grande obsessão", terá pensado, terá chorado, terá sentido, terá, talvez, dito ao mundo todo? O apartamento não é grande, em pouco tempo percorrerá todo o espaço e até o não, virando-se sempre pra descobrir o que falta.
Deu voltas inteiras, abriu a garrafa, destorceu as torneiras; e, bem logo, vazia a garrafa e cheio d´água em casa. Sentou-se ao chão, meditando não calmamente sobre cada uma das possibilidades. Quanto às cartas, sim!, seria melhor colocá-las à mesa demonstrando que sequer precisara escondê-las pra esquecer ou pôr a caixa antiga perto do lixo, simbolizando o lixo imenso que era agora? Impacientou-se, queria lá saber de cartas, morressem sozinhas. E levantou pra continuar.
Os retratos, deixou intactos só os cheios de poeira - melhor assim. Do resto, já bêbado, nem lembra o que fez (amanhã, sabemos: arrependimento). Deu-lhe, de repente, uma imensa vontade de rir, mas de que rir?
Morreu de raiva por não ter comprado um apartamento maior e, como o tempo não passasse, resolveu-se a limpar tudo e depois recomeçar melhor ainda. E fez. Um a um, cada espaço foi re-escrito, limpo e sujo, obstinação doentia, esqueceu-se de comer e de dormir.
Não percebeu que não mudara os discos, repetira o mesmo infinitas vezes; tantas, que o vizinho tinha vindo reclamar. A febre que lhe tinha, no entanto, não deixou que ele ouvisse a campainha, um grande erro. E se fosse ela? Por certo não viria duas vezes.
Ele, o autômato, acendeu e apagou luzes, cantou seus versos preferidos e já nem lembrava mesmo o motivo daquilo tudo. É que tinha tanto, tanto tempo, e por que diabo a casa toda bagunçada? A Norma esqueceu de vir de novo? E depois reclama aumento. Que loucura, que sono e que vontade de,
Toca a campainha. Ele pensa três ou quatro vezes, afinal quem seria aquela hora? Volta a súbita vontade de rir; nem entende, mas abre.
Um desespero seco e ri aquilo tudo que queria: era ela. E agora veria, na desordem dele inteiro, que não sentia, não sentia falta alguma.

24.10.06

poema I - um começo sem tantos princípios.

aí nós lá vamos. =)
em homenagem ao Alan, o mais premente pressionador pro blog sair, finalmente:


"o cheiro de chuva na terra
anulado
pelo cheiro de nada no asfalto"



um começo, é. e muita chuva, dos poemas intermináveis~

ps: querido Ary, seria isso uma alusão aos teus projetos ou passo muito longe? isso soou uma carta xp