28.8.08

Do segundo amor [parte 2]




Se o peixe morre pela boca e é pela boca que você diz ao seu segundo amor, no exato momento em que você percebe que foi fisgado, aquelas palavras um tanto mágicas, trágicas masnomínimoinquietantes "eu te amo", o Medo é aquela criatura que quer te cortar a língua.

Porque, segundo o que consta nos Livros do Destino, da Razão, do Juízo e da Falta de coragem, você bateu a cabeça num poste bem próximo e doeu um bocado. Logo, não vai ser assim na primeira chance de sucesso que você vai doer de novo.

O Medo quer te fazer pensar que é, dizendo, que você morre.Porque, afinal, recorde, o peixe morre pela boca. Mas o que faz de você um peixe, a não ser esses olhos grandes e fundos de quem chorou semanas por um amor perdido? Amores não se perdem.
Ou perdem?
Observe que há mais caminhos do que parece. E as coisas, curiosamente, vão sempre dar em algum outro lugar que você não sabe onde. Você tem Medo?


Ou o Medo tem você?

Porque, se você prestar atenção, há alguém querendo, agora, te chegar.

25.8.08

Intervalo para o EU

[dando uma pausa na série Dos segundos...]


em homenagem aos eueueu, tão conhecidos de todos nós.



EU. Eu sou uma pessoa muito legal, sabe? Eu adoro isso, eu adoro aquilo, eu adoro encontrar você! Pra onde você está indo? Não, eu não posso ir depois, mas agora eu fico com você só por mais umas cinco horinhas... Mas você veja, eu ando TÃO atarefado... A minha vida é uma novela, sabe? Eu já te contei das novidades? Rapaz, fica aí que eu vou te contar meus mais novos sucessos. Nunca vi cara tão talentoso, sortudo e bom com as mulheres do que eu.
Veja você,acho que foi porque eu tive uma educação muito boa. Eu sempre viajei muito, gostei muito de escrever (você já viu meus poemas?), gostei muito de encontrar você, sabe?
Faz muito tempo que não tenho uma conversa tão boa como essa! e calma, calma, já já você me fala de você.

O que você achou do meu carro novo? sabe, foi uma fortuna. Trabalhei muito por ele, e uma parte meu pai me deu também, mas disso ninguém precisa saber. E a minha casa linda e a minha noiva gostosona. Rapaz... Essa mulher na cama neeeem te conto!!!
Ah, esqueci de te contar que tô fazendo mestrado. Ano que vem o doutorado na Alemanha, te disseram? Tô começando a comprar as roupas de frio, tô alugando uns filmes históricos sobre a Alemanha também, não quer ir lá em casa ver comigo não? Vai ser ótimo: só eu e você como nos velhos tempos!

Meu velho, como é bom conversar com você.
E ainda acho que você devia passar lá em casa pra ver meus quadros novos, minhas roupas novas, meus fox terriers novos, minhas medalhas novas e meus cremes anti-rugas. Hoje em dia tem que se ficar perfeito até pras entrevistas de emprego.
Eita!! te disse da minha promoção? Tô é bem.

Mas escuta, tô bem ocupado, tô saindo agora, passa lá em casa mais tarde, viu?
Mas passa mesmo!
Muito bom conversar com você!



- adooooooooro diálogos inexistentes. quem não conhece? :)


Meu Deus, esse povo precisa se tocar...

19.8.08

Do segundo amor.

A pressa que temia fazer perderem-se todos os segundos, minutos e horas acabou levando-lhe à perda do juízo, da lembrança, dos amigos, da esperança e do não.
Ficou-lhe um sim repetido, perdido, sem nexo, aventuras e sexo, repleto de nadas.

Até que, já não procurando, bateu com a testa no próximo poste.


A dor era só a primeira das grandes descobertas.

Dos segundos.

Um certo poeta meio (ou diria meio poeta?), mas não por isso menos instigador, apareceu-me com a pergunta que não quer calar:
- Ô, menina, por quê não mais escreves, pelo menos não no último meio?
- Meio o quê, poeta meio?
- Meio ano, ora pois.

E sempre fui desse jeito, de tantas várias metades, caso então que fiquei a pensar e pensar, e não pela metade, mas digamos minutos inteiros.
E não é que faz mesmo, justamente meio ano, que as linhas se me resolveram ou não resolveram, sei lá, fato é que não mais vieram.
Decerto outros contratempos, inventos da modernidade, ou os arroubos da juventude, os amores pela cidade, a paixão que me consome... Vai saber.
Restou-me uma súbita vontade: escrever dos segundos.

Segundo, ao que me consta, é um termo absolutamente equívoco. Não que ele esteja errado, veja bem, apenas comporta várias análises,várias sombras ou um porquê bastante vário.
Segundo é aquela medida de tempo, basta dizer que é a mera pretensão humana (descabida, por óbvio) de fazer o tempo caber no pulso. Segundo também é aquele que vem depois, muito embora (ora!), o segundo não pare nunca.
Segundo também é o Filho, o arquiduque, o príncipe, aquele seu sucessor. Segundo é aquela palavra que explica o que você quis dizer, quando quer dar ênfase, quando quer buscar quem lhe apóie na explicação.
Segundo, meu filho, no fim das contas, pode ser o que você quiser que seja.

Aí você me pergunta por que eu quis falar disso.
O mais simples, o mais reiterado, o mais batido de todos os assuntos nossos de cada dia: O AMOR! Uma vez li algo bastante interessante, de uma criatura que dizia achar descabido só se falar do primeiro amor. E tinha razão. O primeiro amor tem seus encantos, mas e o segundo amor... não?

Pois contesto! Utilizo as palavras pretensamente direitas pra dizer contesto, contesto e contesto. Agravo e reitero que não tem o menor cabimento.
O Segundo amor é aquele que...

Pensemos.
[cenas do próximo capítulo]