25.4.07

Entre os breves espaços do tempo não há
ninguém
ousando viver o tempo
seguindo ao som do vento
sabendo que, a todo tempo,
o tempo pode acabar.

na sua janela não era nada, meu bem
apenas o nosso espelho,
partido talvez no meio
- "parto, já tendo me partido"

é aí que te digo
da brevidade do tempo
necessidade de anseio
viver do começo ao meio
- "e o final que venha sozinho",

vez que os breves espaços de vento,
confesso

perdi no mei do caminho.

.

19.4.07

Cálice de curta noite.

“Sorver de vários goles um grande cálice de mim. Ser, em vivas gotas, a não-necessidade de ser nada: ser E não-ser, eis a questão. Sinceramente eu, sem ser somente, jamais ausente, sem lembranças ou semente de passado.
Outra vez o começar tudo de velho – te renego, te renego, te renego. Três vezes, que são seis. Vocês, todos vocês, esparsas memórias de um eu-triste, o que eu sei é que existe, existe Eu. E não assim, juro, sem um fim, sou em mim o que nem posso.
Me observo e me disfarço, desfaço percebendo o desapercebido do espelho. Aqui, de meu lugar, já fui você. E também aquele. Quer me fazer um favor? Preciso de uma massagem. Ah, malícia, eu, logo EU, tu dizes? Gosto é de quebrar regra. Sobretudo as convenções. Sobrenada as omissões. Ouviste?
Por certo, és tu mesmo, dessa mesa, que me olhas. Sobretudo as omissões. Me conta o que queres, sem que omitas nada, talvez eu não hesite em ser tua. E não porque eu valha muito – é de tua incapacidade. Que é a minha, que é a deles.
Mas, como eu dizia, sorver de vários goles um grande cálice de mim. Queres um pouco? És um louco, um SÓBRIO. Pobre homem. Já pensaste que podes estar morto? Mor-to. Bem muito louco, não pouco, será que pensas. Diria Não pensa, diria Me tenta. Decerto sou orgulhosa, mas queres saber?
Gosto de rosas. Brancas.
Gosto de ouvir, mas hoje não quero uma palavra tua. Só me toque de aviso prévio, quero dançar. Pois não danças? Que esperança, então! Até, rapaz.
E também fui o rapaz na mesa. O homem na mesa. O vazio na mesa. A mesa. A. Fui céu de estrelas e sol nascendo, fui menina brincando, mulher resolvendo. Resolver? Resolver é uma maçada. Palhaçada de mim de outros tempos, que invento esse meu. O que importa? Nem eu nem ninguém.
A vida, a vida é que importa.
Honro a vida com minhas palavras?! Com meu sangue. Com meu riso e meu pranto, ah, o encanto da vida. Alguém me tire pra dançar, que já devaneio, hum? Não, não você.
Ah, que bom encontrar você, amigos andam difíceis por aqui. Como vai? Perdeu João, como assim perdeu? Ah, procuremos, pois. Vejo que está triste, não fique, mais tarde, bem tarde, voltamos pra casa e contamos pros filhos. E netos? E tudo.
Sim, confesso, foi bem nessa música, dói-me como a falta de existir. Nem quero que eu me prove que eu não existo. Que eu não vivo tanto e nem omito o tempo inteiro. Omito, logo existo! Ah, Descartes, me diga dessa.
Olha, moça, não achamos João, mas eu juro que eu preciso dançar. Luz, som, câmera, ação ou não: preciso. Vou. Você vem? Te ligo, então. Ah, sim, até.
Eu, plena. De quê? De Vida. De mim.
Sorver de vários goles um grande cálice. ”

3.4.07

Fevereiro, quatro.

Fevereiro, quatro.

O bom é que a vida não pare. O bom é que a vida não desça. Vindo o que vier, a vida dança, a vida cala, a vida grita. Estupidez achar que pare por um choro: a vida é um coro que não pára de pintar.
De cair, de rodar. É o menino que pisa na bola e se acaba de rir, é a moça que chora dos pulsos cortados sem se cortar. É o tempo que anda. E o que não anda, também. O pulsar só pulsa, o sentir só sente e, se não, se mente, mente-se, cabou.
Pensei, pensei num pente. E aí o dente e aí a morte. E aí a vida e aí o sábado. Prosados versos, prezados versos, versejados densos, e, se minto, tento esquecer do medo. Mas, segredo, não conte a ninguém, por ora vou bem, e o menino corre.