19.4.07

Cálice de curta noite.

“Sorver de vários goles um grande cálice de mim. Ser, em vivas gotas, a não-necessidade de ser nada: ser E não-ser, eis a questão. Sinceramente eu, sem ser somente, jamais ausente, sem lembranças ou semente de passado.
Outra vez o começar tudo de velho – te renego, te renego, te renego. Três vezes, que são seis. Vocês, todos vocês, esparsas memórias de um eu-triste, o que eu sei é que existe, existe Eu. E não assim, juro, sem um fim, sou em mim o que nem posso.
Me observo e me disfarço, desfaço percebendo o desapercebido do espelho. Aqui, de meu lugar, já fui você. E também aquele. Quer me fazer um favor? Preciso de uma massagem. Ah, malícia, eu, logo EU, tu dizes? Gosto é de quebrar regra. Sobretudo as convenções. Sobrenada as omissões. Ouviste?
Por certo, és tu mesmo, dessa mesa, que me olhas. Sobretudo as omissões. Me conta o que queres, sem que omitas nada, talvez eu não hesite em ser tua. E não porque eu valha muito – é de tua incapacidade. Que é a minha, que é a deles.
Mas, como eu dizia, sorver de vários goles um grande cálice de mim. Queres um pouco? És um louco, um SÓBRIO. Pobre homem. Já pensaste que podes estar morto? Mor-to. Bem muito louco, não pouco, será que pensas. Diria Não pensa, diria Me tenta. Decerto sou orgulhosa, mas queres saber?
Gosto de rosas. Brancas.
Gosto de ouvir, mas hoje não quero uma palavra tua. Só me toque de aviso prévio, quero dançar. Pois não danças? Que esperança, então! Até, rapaz.
E também fui o rapaz na mesa. O homem na mesa. O vazio na mesa. A mesa. A. Fui céu de estrelas e sol nascendo, fui menina brincando, mulher resolvendo. Resolver? Resolver é uma maçada. Palhaçada de mim de outros tempos, que invento esse meu. O que importa? Nem eu nem ninguém.
A vida, a vida é que importa.
Honro a vida com minhas palavras?! Com meu sangue. Com meu riso e meu pranto, ah, o encanto da vida. Alguém me tire pra dançar, que já devaneio, hum? Não, não você.
Ah, que bom encontrar você, amigos andam difíceis por aqui. Como vai? Perdeu João, como assim perdeu? Ah, procuremos, pois. Vejo que está triste, não fique, mais tarde, bem tarde, voltamos pra casa e contamos pros filhos. E netos? E tudo.
Sim, confesso, foi bem nessa música, dói-me como a falta de existir. Nem quero que eu me prove que eu não existo. Que eu não vivo tanto e nem omito o tempo inteiro. Omito, logo existo! Ah, Descartes, me diga dessa.
Olha, moça, não achamos João, mas eu juro que eu preciso dançar. Luz, som, câmera, ação ou não: preciso. Vou. Você vem? Te ligo, então. Ah, sim, até.
Eu, plena. De quê? De Vida. De mim.
Sorver de vários goles um grande cálice. ”

5 comentários:

Renata disse...

mas como eu ia dizendo..

Renata disse...

se eu me bebesse certamente vomitaria.

bruno reis disse...

pessoa, achei ótimas as imagens e o monólogo com um outro, mas acredito que do meio pro final ele ficou meio perdido, já que não consegui mais notar o diálogo. e tenho a impressão também que nesse texto específico as rimas, mesmo em prosa, ficaram em demasia, talvez em detrimento do desenvolvimento de algumas idéias. é isso, beijos!

Marcelo Mesquita disse...

E a mesa vazia? E o cálice de quem? Espelhos resolveriam.. o (???)logo?

Marcelo Mesquita disse...

Deixa eu me explicar melhor. Não é que eu não tenha entendido, o que fiz foi uma comparação dualista do teu monólogo. Tipo assim, duas personalidades de uma pessoa só... na hora H esse cálice seria de quem? Qual dos dois deixaria a mesa vazia, Até que o espelho resolveria tudo pelos dois (ou um).

Bem, o que eu quis dizer foi isso, mas acho q fikou mais confuso ainda!! heheh

Mas resumindo tudo... adorei seu texto! :)