1.6.07

Na cantina - parte 1.

- Olhe em volta.
Ele o diz, e não é um sonho só. Sonho que se sonha só, eu sei, é sonho,mas o sonho junto... já nem sei.
- Olhe em volta, ele continua.
E o que ele quis dizer, perfeitamente, eu o sabia, mas não ia dizer, deixei-o a falar. e falar e falar. Sobre o desespero do mundo, o agônico do homem, a cultura quase perdida,os problemas sociais: tudo isso, menina, é apenas a ponta.Ele falava como quem não dá fim. Nem as palavras nem a si, tudo fica suspenso, menina,veja você que o mundo, ah, o mundo, "o mundo não vale o mundo, meu bem".Saberia ele estar a citar Drummond? Falava muito dos alemães.

O que eu sabia, devo dizer, é que por isso senti eu também saber, mas já não mais do mesmo jeito.Aquela inquietude a sobrevir da calmaria, quem já não havia, por segundos,angustiado a vida inteira?Nietzche tem lá sua razão, Thomas Mann também, e sobretudo Hermann Hesse, mas eu ainda fico com o Drummond e o velho estar-no-mundo.

O que dói, meu amigo, é o estar-no-mundo.E aquela coerência de que eu te falava, e tu me dizias um conceito outro a dizer a mesma coisa,é isso que eu vejo olhando em volta, a exata falta dela.

Dói quem não tem sequer a coerência. Não sei se aos 19 te posso dizer que essa é a necessidade básica, mas te digo com tranquilidade que nunca vi ninguém estarem paz sem ter aquela. A bendita (ou maldita, tu bem falas) coerência.
Dou-te apenas um outro conselho ao vento, muito embora saibas que não virás por cáa ler-me: as teorias, meu amigo, de nada valem sem a prática. Não é preciso ler Kant pra saber. ;)

4 comentários:

Anônimo disse...

Menina, vc escreve muito bem!!! Estou impressionado...
Se não se importa (e creio que não) voltarei para ler mais.

Não nos conhecemos, sou amigo da Ana Paula de Brasilia e entrei aqui bem "por acaso" (se é que o acaso existe...).

Beijo e uma ótima semana!

Rebeca Xavier disse...

não é preciso mesmo!
gostei do texto ^^
e, respondendo ao seu comentário no meu blog tempos atrás, eu sou de Fortaleza sim ^^
o que te fez perceber isso?

Ramon de Alencar disse...

...
-Ou às vezes nada, nem se quer ler, escutar... mas sempre ver.

...
-E ah, certa vez me disseram que se gostaria de escrever um conto, sobre uma história duas vidas...

Esquecido? Lembrado? Redundante?Vago? ou IN-coerente?

Ah, bebamos aquele café programado pela Fada.

Renata disse...

se esconde na Fantasia...divido contigo a morada