1.1.07

Hilda Hilst

. a ficção tá no livro. o livro que eu molhei na chuva. o livro que arrancou as páginas:
e não faz sentido - só não faz.
aquela música repetindo quando quer e o quando quer é muito: Nada vai mudar isso.
[mudou: eu sou neguinha]

falo com voz da Hilda:


Amavisse

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada."

adoro sempre esse poema, pra além de mim. pra além de agora, mesmo quando o agora é nunca.

e nunca vá pra uma serra pensando que não vai ter muito sol, muito amarelo e se pensando forte.
mas cante sempre hilda, cante cante bem muito.

eu pediria um recital, desse poema só e de vários outros, mas deixa que eu leio mesmo.
E te respiro inteiro.


~

2 comentários:

Raiça Bomfim disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Raiça Bomfim disse...

Quem sabe algum ouvido possa guardar o que não cabe em si,
o que derrama em falta...

Para os anjos que me possam acudir
entrego versos invísiveis
recitados em voz alta.