9.11.06

ao som de "the build-up" (mil vezes Kings of convenience~)

A música invade o tanto exato que se deixa no segundo em que se abre aquela porta.
E se não se abre a porta ela vai entrar por todas as janelas, escorrendo, se dizendo, quebrando todas as métricas, se fazendo mais do silêncio que do dito, ficando o não-dito pelo dito, o quebrado pelo inteiro, o começo pelo meio – naquele verso.
O ritmo arquejante das palavras, uma a uma, gota a gota, faces da mesma roupa, lados do mesmo encanto, outro e outro tanto, aos versos quebrados vento, quebrados tempo, quebrados sendo, um a um, tantos, tantos.
Santos os versos. Dizendo mais do que ousavam dizer todas as seitas, os livros, os discos, a música que vai transbordante à voz nauseante de todo intérprete, o intérprete não era eu?
E vai deslizando os ouvidos, acariciando os espantos, deixando pasmas arestas, o sentido ecoando cada uma, por cada uma das frestas. A casa se iluminando, a porta se entreabrindo, e a música vindo, como água de represa, preencher o impreenchível.

Não pára nem pra dizer bom dia. Pra abrir a porta do elevador. Pra consolar dores de perda, de morte, de amor, mesmo quando são todas uma e a mesma coisa. Não sabe se chama prosa ou poesia, não se importa, não se liga: que lhe diga! Que se lhe diga o que vier, a Música, tão tanto mulher, olha a tudo sem incômodo.
Entra sem cerimônia.

Passo após passo. O vestido volteando às vezes pelas esquinas, o movimento, o verso repetindo, em cabeça entrando, decorando, sem querer.
Vai vindo, voltando, requebrando, arquejando na voz que seja, bonita. De preferência bonita, não escapa às esteticidades, a música.
Penetra.

Delírio em verso e tempo.
A toda e qualquer incoerência vamos agradecer, por não estarmos a ser pedras, e cantar ainda outra vez:
quer seja ontem, quer seja hoje. E amanhã, talvez.

Um comentário:

Pedro Nakasu disse...

Viva à música \o/
E que deixem-na penetrar surda ou estrondosamente em nossas vidas, queremos que nossa vida seja um filme com trilha sonora! =}