15.11.06

[Prefácio]

Denuncio-me a mim mesma.
Sem verdades ou mentiras, cada frase e cada vírgula
De silêncio ou de meus gritos,
Minhas faces, minhas facas
Talvez por isso eu escreva.

Calo-me, a mim mesma.
A cada instante de ausência
Ilusões de onisciência
Espasmos de tanto encanto
Paixões nessas esquinas: eu, menina.

Eu, mulher.
Dançando, comigo; com eles.
Versejando, conversando, sem dizer
A gente bebe na mesa, a gente planta cervejas
E colhe livros pro amanhã.

Duvidei, por uns segundos, da não-necessidade de falar
Pra só no outro instante, ao cair dos dias e
(de novo) levantar das noites:
perceber que o muito que a mim me tenho
é do tanto que me converso.
E verso, inverso, reverso, transverso:
Converso.

Quando não souber me dizer, ficarei num canto bem canto
Cantando talvez calada, um Dylan, um Jack, uma das tantas
Não sei se vou ainda saber ser criança
Ou conversar como antes fazia.
Se me denuncio, se me falo, se me faço, se não nada.
E ainda acho que é nesse saber, ou nesse não estar sabendo,
Que me resguardo de toda mentira,
Que me disfarço de toda verdade.

2 comentários:

Raiça Bomfim disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Raiça Bomfim disse...

"...
Que me resguardo de toda mentira,
Que me disfarço de toda verdade."

Eu também poderia colocar esse como o prefácio de tudo que escrevo. Isso... Lindo!

Quanto ao criancês, aprenderemos juntas então. Venho cá brincar com os teus textos pra saber mais de falar o que se quer e sair bonito.

Ah, e gostei da idéia da fábula! Juro que dia desses eu tento! Brigada, neguinha!