17.12.06

Carta por (quase) mandar:

Sabe de onde eu nasci, ms? Eu vou te dizer que eu nasci dum sorriso mesmo, há muito tempo, já nem sei quanto, e não saber não é incômodo: apetece-me apenas saber que nasci foi de um sorriso - e esses são todos os meus motivos.
E é por daí ter nascido que ele se fez imenso, incomensurável, de dentro e ao mesmo tempo ridiculamente expressado, ao ler carta tua. Nunca mais me cobrei sentido, e é onde as coisas mais têm feito: no sorriso.
Sempre sinto que o mundo inteiro por contar-te, compreende? Eu quase escrevi um conto, só pra dizer. Minha descoberta: não sei se dou pra poemas, eu ando contando o tempo inteiro. Pequenos, grandes, agora, antes, sempre. Ele me ajuda e é tão divertido ele me pedindo conselho, se pra mim ele é o próprio quase-Deus (lembra que eu não quero perfeição, não lembra? Perfeição, não).
E é o que vou fazer, isso é um conto, pra você. Vou salvar, vai ser mais uma das minhas cartas, e bem especificamente pra alguém. Não pela sede do literário, mas pela saudade guardada, e pelo sorriso nascido, tendo eu mesma nascido dele, há tanto tempo.
(sabe aquele teu testamento, também tem tempo, mas falavas de quintana e caio, falava de si, falava de nós, falava só, falava sentindo, aquela é a coroa do universo: do lado da risada do Alan – risos - , essas são as respostas do Universo) e não não tenha ciúmes,
essa carta vai estar engraçada, pequena, e vou estar sorrindo a mais não poder, porque é assim que sempre foi e é assim que tem sido. Que estejas sorrindo também, porque te quero tanto, tanto bem, não me leias mal, não, não me leias mal.
Mas essa frase é só assim que pode ser dita, do querer e do bem, e aliás finja que eu nem disse, uma vez que sabes.
E, posto que sabes (adoro esse “posto” concessivo), resolvi falar.

Tens estado, então, feliz? Me agrada imenso. E agradar não é pouco. Curioso que tua carta provavelmente chegou nos últimos dez minutos, e eu sorrio até disso: estamos sempre nos mesmos lugares, ms.
Eita, essa foi lá em Desatino do Norte e voltou (rindo de novo), sabe, ms, acho que essa febre hoje me deixa meio lesa. Mas não é invenção, ando bem mesmo. A questão é que ficar em casa com febre e acordar e ter uma carta é uma coisa bonita.
Pois foste ao mar? Mar é bom. Eu tenho ido às gaitas. E tenho ido aos encontros literários – gente, isso é tão divertido. Eu tenho estado nos mesmos lugares.
Eu tenho planejado a viagem, continuo escrevendo cartas e no exato momento quero chorar com a Norah cantando, porque me é absurda de linda essa discografia recém-adquirida, meu Deus, ela tem uma música pra Bessie Smith (!), ai mesmo.

“i´m going down the road to see Bessie, ohhh, to see her soon”
acho que eu viajo completamente e penso que ela canta pra mim. Mas pulemos isso? Nunca mais fiz palavras cruzadas. Nem ouvi Alanis, acredita? e deixe dizer que ainda sinto falta do meu Rubem. mas não é que doa não. Outro dia passei o dia no Jack, e, ah!, isso eu tenho que falar. Ele me doía, ms. Oh sim, Jack Johnson era dos que era pra evitar. E um belo dia, e isso merece ser contado depois, não doeu mais.
Sabe por que às vezes sinto mais falta de te escrever? Porque sempre senti que as coisas pra ti eram as melhores. Ia além da sede de dizer. Talvez fossem as mais sinceras (e não são mais?), mas eu sempre me perco em tanta palavra, petite, posso voltar ao meu começo?
É um sorriso.

O amor? Ah, o amor. Imitarei a Gal, ando recém re-viciada em Gal, “eu sou amor da cabeça aos pés”, e ouça a Norah cantando “crazy”. L´amour est toujours à moi. Sabe uma coisa que diz a Lívia, acho linda, olha esses versos:
“estou caótica, estou cética, mas estou música.” – é do meu poema preferido dela. É inteiro lindo, se quiser depois peço a ela pra ti (agora um sorriso de canto, se me permites).
Isso me é incrível: estou caótica, estou cética, mas estou música. Soa incrivelmente meus delírios diários, tudo acaba em música. Porque diz o Renato Russo que se apaixona todo dia e é sempre a pessoa errada. Quando foi que eu acreditei nisso? Eu tenho sorte ou azar demais, e só conheço pessoas certas. E o amor? Não acredito em ilusões, o mundo fala muito em ilusões, eu acredito em amar até que,

Até que os dias não sejam mais dias. Até que o silêncio se faça repleto daquela presença que não é mais duas, nem mesmo uma só: é só dele. Dele o amor, dele o sorriso, dele o universo refletido naquele tudo que se desdobra duma invenção a duas mãos, que incrível invenção, hum? E inteiro de pequenos segredos, declarados segredos, sinceros e inteiros, um amor que não olha em janelas, não precisa de espelhos nem de razões. Acredito em vencer o tráfego das ruas turbulentas, no não-ouvir o grito do triste, em pular as ilusões (mas e quando elas forem boas, por que não deixa-las ser, durante um tempo?)
Permanecem algumas perguntas, e sabe o que quero te contar, vejamos, quero que Lívia escreva um livro. Que o Alan vença no concurso, quero ajeitar o meu violão e continuar as composições, é só que sempre esqueço de comprar as cordas.

E vou querer não mandar essa carta agora, assim que li eu soube: não quero mandar agora. E ri, ao pensar que talvez seja pra que tu fiques esperando, mas não, eu não seria cruel assim, seria?

~

8 comentários:

Marília Passos disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Marília Passos disse...

putz.
pq essa pergunta eu tenho que registrar.
Lara: "ms é destino?"

e eu fiquei o.õ
que destino? hehehe destinatário ou destino-destino?
adoro essas dubiedades. (sem mais)
mas enfim.. ficções, seriam? literatura, vida, meu povo, é tudo a mesma coisa :P



(favor quem ler esse carta de hj por favor diga =}

tipo: i was there xp

Lara disse...

i was there.
or anywhere.

Anônimo disse...

Uma carta deve sempre ser esperada mesmo, haja crueldade. E o Jack Jonhson é bom para o espírito, moça.

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Ah, é como pular de cor em cor.
Assim, bonito.

Anônimo disse...

essa carta deveria ser incrivelmente enviada.
quem ficou saudosa dos tempos foi eu, acredita? sei lá porque, final do ano passado foi bem legal.
e eu digo. e tenho ainda.
fiquemos música, sim?

Unknown disse...

sublime é pouco.

Alan Santiago disse...

é síndrome do escrevinhador invejoso, mas eu tenho que dizer: eu queria ter um pouco da sua poesia!...
=***