12.12.06

Primeira à margarida

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Se eu era girassol e tu eras margarida, por que não contaste logo, pra que todo o jardim fizesse o mesmo sentido? Conversa comigo e me conta qual é o dilema, digo-te estás a inventar problema, margarida, ah, querida, inventarmos charminho não.
Acaso não gostas de música? Pois então, repara nisso: é batendo palmas que a tensão começa. Não é quando tu choras. Olha o samba! Percebeste? O alegre é no triste, margarida, mas o feliz não é em ninguém.
Nem no samba nem no agora. Mas, margarida, só me conta, como tu queres que eu permaneça, se estás sempre de partida?
Ouve essa música, flor querida, e entenda que é nas palmas a minha maior agonia, quando tu começas o pranto, o desfolhar-se toda, e ainda digo:
Devias ter-me dito, já de começo, que eras tu margarida, o girassol sendo eu.
Irei sempre atrás do sol, se bem me entendes. Mas espera, eu era quem dizia que tu sempre de partida. Absurdos, margarida, viras a mesa!
Vais quebrar os pratos e a louça da sala, minha mãe não te perdoa, margarida, estás a perder o senso. Esqueceste que eu girassol? Que eu manhã toda?
Giro eu em torno do sol, margarida, mas tu giras em redor de mim.
Pois não? Ouve essa música, querida, e repara que é nas palmas.
O feliz não é em ninguém, um dia cansas de procurar. Talvez veja que em mim sabias, no meio do sol da tarde, e ainda digo que devias ter logo dito.
Ah não, margarida... volta, nas palmas.

2 comentários:

Anônimo disse...

eh tao teu que da pre sentir o teu cheiro.

Anônimo disse...

Tem a suavidade de uma Cecília. Parabéns.