28.12.06

Take what you need.

A cena é essa:

Uma mesa no meio da cidade. Uma cidade no meio de alguém. No meio do trânsito, um sorriso no escuro – e alguém que via. Que via o meio de tudo, que sentia o silêncio contido nas pontas dos dedos, os dedos passando vagarosamente pela mesa, sem tocar.
O toque que era assim tão esporádico, temendo tanto ter que voltar. E era exatamente pelo temer de voltar que ele ia, o toque, vezououtra mais uma vez daquele jeito como quem não quer nada, como quem diz “que nada, não pensa assim” e muda de idéia. E na verdade como alguém que queria dizer exatamente isso de “não pensa assim”, mas que precisava tocar pra saber como era.
A mesa no meio da cidade e no meio de um milhão de vontades.
Antigamente seu nome era outro, e lhe chamavam Fernando, ou tantos outros. E lhe diziam pra não confiar em ninguém com mais de trinta ternos. Ela teria trinta ternos?
Continuou repetindo, naquela mesa, que não se machucaria. Que teria o nome que ela quisesse dizer, porque estava mesmo a cidade no meio dele inteiro, e ele repetindo que sim.
Ele repetindo que não.

Então veio alguém a dizer, de leve, leve como ele quereria, citando sua banda preferida,
“take what you need”.

Foi o que fez. Tirou as coragens dos 29 ternos (ou seriam só 2?) e segurou aquela mão que desejava.

Nenhum comentário: